Você é um fanático religioso?

Há quem pense que não se deva buscar a Deus exatamente da forma como a igreja propõe ou da forma como a bíblia nos apresenta aqueles personagens de maior relevância em suas histórias.

Já deixo aqui a minha posição sobre o tema, penso que o problema na verdade, me parece estar no coração humano, no pecado que nos afasta das coisas de Deus e insiste em nos dizer que muitas vezes é mais importante fazer qualquer coisa do que ir à igreja ou participar de alguma atividade proposta por ela.

Uma coisa é certa, não existe um vácuo de informação, ninguém fica sem fazer nada, sem pensar em nada, até uma planta quieta e imóvel faz fotossíntese.

E, à medida que interagimos com algo, estamos aprendendo algo, a questão é sempre se o que recebemos de informação é proveitosa ou não para a nossa vida.

Alguns de nós, buscam convencer-se de que buscar a Deus é muito bom, mas que também existe um limite que nos colocamos, seja por suspeita de nossas atitudes piedosas ou quando suspeitamos do julgamento dos outros.

Você até pode estar convencido de que não quer ser um “fanático religioso”, e Deus o livre de ser taxado ou parecer um aos olhos das pessoas a sua volta, no entanto, duvido que você não queira que a pessoa de Deus te proteja 24 horas por dia, não é mesmo? Isso te soa como fanatismo?

Certa vez um amigo me disse algo, “mas tu vais todo domingo na igreja?”, “tu já leste a bíblia toda?”, confesso que não é agradável ouvir isso de uma pessoa, ainda mais quando ela está espantada.

É claro que quando conhecemos alguém assim, já podemos deduzir o nível de entendimento e a qualidade da vida espiritual do indivíduo, no caso deste amigo essas deduções são verdadeiras. Ele, assim como muitas outras pessoas olham com desdém para a prática de fé alheia, muitos por desinformação, justamente por não sabem o significado de coisas básicas como culto, ceia e batismo coisa que não são consenso nem entre nós cristãos. Portanto, o que podemos esperar destas pessoas?

Mas vamos voltar um pouco no tempo para entendermos melhor onde começa essa história de fanatismo religioso.

A partir do iluminismo, em especial Voltaire (1694–1778), que o fanatismo se tornou um assunto polêmico, eles associaram-no a superstição religiosa, e com consequências violentas, principalmente por causa das guerras e perseguições.

É importante pontuar que neste período na Europa, recém haviam saído de um longo tempo de guerras religiosas sangrentas entre católicos e protestantes, além das perseguições por parte de várias igrejas a quem fosse considerado herege.

O contexto político da época era distinto, pois muitos estados tinham o cristianismo como religião oficial, portanto negá-lo era também um crime.

O fanatismo como conhecemos tomou forma por causa das implicações que tinha com o uso da violência para sua afirmação, isso durou até o século XVIII (18), somente dois séculos dois (XX) que o fanatismo assumiu uma cara política.

Em nossos dias, ao vermos a forma como índios se relacionam com seus deuses, hindus ou até budistas associamos essas práticas a cultura de um povo, a no máximo julgamos como uma manifestação excêntrica.

Isso ocorre por dois motivos: Primeiro porque essas, entre outras religiões politeístas não reivindicam para si uma verdade, um único Deus, como no caso do Cristianismo, portanto são “menos nocivas”. Segundo, porque a visão de mundo das pessoas hoje é secularizada, moldada ao tempo presente.

Um dia acordamos e descobrimos que a verdade foi dividida em vários pedaços e de diferentes tamanhos para que qualquer um possa levar uma parte, portanto, não é mais um caminho, mas caminhos, prismas, pontos de vista, é isso que Lesslie Newigin chama de “cativeiro cultural do evangelho”.

Nancy Pearcey fala: “Eles (secularistas) consignam a religião à esfera do valor, desta forma excluindo-a da esfera do verdadeiro e do falso. Assim, os secularistas podem nos assegurar de que “respeitam” a religião, ao mesmo tempo em que negam haver relevância com a esfera pública.”

Isso não te faz pensar sobre o quanto a nossa mente está pensando religião nos moldes de um mundo hostil ao evangelho.

Quando falamos de Jesus esse assunto parece sempre estar condicionado a uma fala particular, em um momento de intimidade entre duas pessoas para daí sim, ser compartilhado. Afinal, quem cita Jesus em seus artigos de mestrado ou doutorado, não é mesmo?

Novamente citando Nancy Pearcey em seu livro Verdade Absoluta, lemos: “Não podemos apenas tomar os resultados da erudição secular como se fosse território espiritualmente neutro, descoberto por pessoas cujas mentes estão de todo abertas e objetivas, ou seja, como se a queda nunca tivesse acontecido.”

A abordagem cristã, seja aonde for, precisa necessariamente ser crítica sim, mas construtiva também, pois o cristão está inserido em um mundo onde o sistema de pensamento foi formado e dominado por não-cristãos (2Co 4.4), portanto falsos, pois se o sistema não for construído sobre as verdades bíblicas então, possivelmente, está sobre outra base.

O cristão precisa necessariamente buscar crescer na graça e no conhecimento de Cristo, bem como nas ciências para conseguir dialogar nas mais diversas esferas da vida pública onde será “sal e luz” (Mt 5.13–14), a cosmovisão cristã embasada na verdade não precisa ser impositiva, ela precisa apenas aparecer, digo isso, porque a conversão ou renovação de entendimento não acontece por esforço humano, mas como bem sabemos, por obra divina.

Ser cristão de forma prática e efetiva em nossos dias, nos faz estar atentos as oportunidades para falarmos de Jesus e levarmos o evangelho. Penso que não podemos cair no erro de deixarmo-nos inibir por um falso pressuposto de julgamento das pessoas a nossa volta. Considero aqui, que independentemente de você fazer ou falar algo, sempre existirá alguém para te julgar. É nesse sentido que as manifestações de fé devem ser praticadas, porque isso é o que os cristãos fazem, portanto isso é o que somos.

As evidências estão a nossa volta e elas expõem as mazelas sociais que pelo ponto de vista cristão, são fruto da pecaminosidade humana (queda). Portanto, atitudes que levam fé, amor e esperança jamais poderão serem vistas como atitudes de religiosos fanáticos. Quem em sã consciência pensaria assim?

Diante de tudo que lemos até aqui, quero comentar as 4 características do fanático religioso que são comumente encontradas na internet:

1- Ele segue as doutrinas religiosas sem questionar ou considerar por outras perspectivas e crenças, mesmo dentro de sua religião.

Não podemos seguir um determinado dogma sem considerar outras perspectivas, na teologia cristã isso é mais fácil, pois a história da igreja nos mostrou teólogos validados pelo tempo que construíram pensamentos e nos auxiliaram na interpretação das escrituras, mesmo distintos uns dos outros, temos bons exemplos de que o conhecimento de Deus pode ser infindável sim, mas isso não é motivo para cruzarmos os braços e não buscarmos estarmos “preparados para responder a razão da nossa fé” (1Pe 3.15). Com segurança afirmo que a religião Cristã é a mais bem fundamentada, pesquisada, debatida, criticada e algo de inúmeros livros e artigos sobre cada sentença contida na bíblia. O Cristão não questiona as doutrinas basilares da sua fé, pois sim, existem pontos que não estão abertos para questionamento, caso contrário você não pode se dizer cristão. Quer um exemplo disso? A trindade.

2- Justificam na religião comportamentos extremos e violentos em nome de Deus caso sejam contrariados.

O cristão está sempre em desvantagem e vantagem em uma conversa em que você pode ser contrariado.

Desvantagem, no sentido de que ele não consegue acessar o coração da pessoa que o ouve, ele jamais deve partir para o ataque, a coisa mais sensata na maioria das vezes é calar-se, recuar e não atacar com palavras e muito menos com violência. Ele deve descansar e estar em paz justamente por causa da sua grande vantagem, que consiste em falar palavras que não são suas, é desta forma tudo que o cristão professar (quando se referir a sua fé) deve estar embasado e justificado nas escrituras, sua fala deve ser sempre em amor, em tom cordial e conciliatório, isso é tudo que ele pode fazer, pois a partir daí deve deixar que o Espírito Santo faça seu papel como Ele quiser. Lembre-se que as palavras não são suas, e que, portanto, não é pessoal, em qualquer conversa em que o evangelho for pauta você é apenas um porta voz.

3- Em muitos casos, o fanatismo religioso é associado a uma mentalidade dogmática e inflexível, que pode levar à intolerância, discriminação e até mesmo a violações dos direitos humanos.

Tolerar não significa concordar, existem limites nas ações e nas falas, lugares apropriados e um “estado de espírito” favorável ou não para o diálogo. Conseguir mapear isso pode ser fundamental para uma conversa proveitosa. A discriminação é caracterizada quando alguém trata outra pessoa com desprezo e ódio só porque um indivíduo não se enquadra nos moldes do que entendemos ser o correto. Por óbvio, esse é um comportamento que não condiz com a forma de Jesus tratar quem não concordava com ele ou hostilizava seus amigos, no vilarejo samaritano Tiago e João não foram bem recebidos e ao desejarem que o povo fosse destruído por “fogo do céu”, ouviram de Jesus: “Voltando-se, porém, repreendeu-os e disse: Vós não sabeis de que espírito sois. Porque o Filho do Homem não veio para destruir as almas dos homens, mas para salvá-las. E foram para outra aldeia.” Lc 9.55,56.

4- O fanático religioso pode utilizar qualquer meio para afirmar sua crença como verdadeira acima de qualquer outra religião, ou até mesmo da sua própria.

Este é o ponto de maior tensão na fé cristã, pois o Cristianismo reivindica para si o único Deus verdadeiro e disso você não pode fugir, pois é o que as escrituras pressupõem. Você nunca vai ler na bíblia de forma explicita a sentença: “Deus existe”. As escrituras não se preocupam em defender a existência de Deus, ela parte do pressuposto que Ele existe e isso basta. Logicamente, ao entendermos esse fato (que Deus existe) há implicações sérias nesta afirmação.

O “problema” é que ao professar a existência de UM Deus verdadeiro, você está dizendo que todos os demais Deuses são falsos, e que, portanto, as demais religiões estão erradas.

Uma religião politeísta sempre vai crer em um deus menos poderoso, pois um deus sempre estará limitado a gerência do outro, enquanto um possui uma competência especifica para atender o outro não, ou seja, o deus da água não pode gerir o sol e assim por diante.

Cabe dizer aqui que uma conversa que comece com esta pauta, pode ser pouco proveitosa, pois é difícil falar de Deus, sem entender quem Ele é e quais os pressupostos que me levam a crer que Ele existe e é real e que me fazem ter determinado comportamento e atitudes por causa deste Deus, isso diz respeito a testemunho.

Da mesma forma que você não vai ler na bíblia “Deus existe”, mas se comporta de determinada maneira por pressupor isso, você vai encontrar na bíblia escrito “não há Deus”(Sl 53) e, quais as consequências na vida de quem afirma isso.

Não se desgaste.

Portanto, não tenha medo de buscar a Deus, de “crescer na graça e no conhecimento de nosso Senhor” (2Pe 3.18).

Lembre-se que quanto mais perto você estiver de Deus, mais diferente estará do mundo. A vida cristã não é só sobre você e Deus, mas sobre viver em comunidade e as implicações disso são que você não poderá destoar do corpo uniforme e perfeito de Cristo.

Deus também pensou a igreja para instrução uns dos outros e nela a palavra é a régua e o prumo para uma vida espiritual saudável.

“pois, filho meu, fortifica-te na graça que está em Cristo Jesus. 2E o que de minha parte ouviste através de muitas testemunhas, isso mesmo transmite a homens fiéis e também idôneos para instruir a outros.” 2Tm 2.1,2

“Irmãos, se descobrirem que alguém cometeu algum pecado, vocês, que são espirituais, devem ajudá-lo a voltar ao bom caminho. Mas façam isso com espírito de brandura, e tenham cuidado para que vocês também não sejam tentados. 2 Ajudem-se uns aos outros nas suas dificuldades, e dessa maneira obedecerão a lei de Cristo.” Gl 6.1,2

Pertencer a uma comunidade bíblia te dará a segurança de quando estiver destoando negativamente do corpo, seus irmãos possam te ajudar a voltar ao lugar comum.

Em uma igreja ninguém é espiritual demais que não possa pertencer a ela e nem pecador de mais que não possa ser perdoado e aceito.

Não tenha medo de pertencer a um lugar que leva a vida cristã a sério, é nele que você vai abandonar as desconfianças de criança e se tornar adulto (1Co 13.11).

Augusto Marques